Busca

2022.11.10 Monsignor Martinelli-Abu Dhabi

Martinelli: enorme contribuição de Francisco para o diálogo inter-religioso

O vigário apostólico da Arábia Meridional, franciscano capuchinho, destaca a importância do “Documento sobre a Fraternidade Humana” assinado pelo Papa em Abu Dhabi em 2019, considerando-o de texto ‘profético’ que chama as religiões a trabalharem “juntas para promover o bem da humanidade”. "Da Fratelli tutti à Laudato si'", acrescenta, "muitos foram os elementos franciscanos do seu magistério".

Fabio Colagrande - Vatican News

“A dor, o sofrimento que estamos vivendo nestas horas para a conclusão da missão terrena do Papa Francisco já é um primeiro testemunho da importância do seu pontificado, dos seus gestos, do seu magistério”. Quem fala de Abu Dhabi é dom Paolo Martinelli, capuchinho, desde maio de 2022 vigário apostólico da Arábia Meridional, uma jurisdição territorial da Igreja Católica que inclui os Emirados Árabes Unidos, Omã e Iêmen. A casa onde ele reside, na capital do país árabe, tem vista para o pátio da Catedral de São José, visitada por Francisco em 5 de fevereiro de 2019, durante a viagem aos Emirados, que entrou para a história pela assinatura, com o Grande Imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyib, do “Documento sobre a Fraternidade Humana”.

Um documento profético

E é justamente sobre o que ele define como a “enorme contribuição” do Papa recentemente falecido para o diálogo inter-religioso e sua herança “franciscana” que Martinelli, ex-bispo auxiliar de Milão, se detém. “Foram muitos os gestos que ele fez para enfatizar o bem do diálogo entre pessoas de diferentes religiões”, explica. “O documento sobre a ‘Fraternidade Humana’ é um texto único e profético que marca um novo capítulo na história do diálogo inter-religioso”. “Em primeiro lugar”, acrescenta o prelado, "porque é a primeira vez que um documento é assinado em conjunto pelo chefe da Igreja Católica e pela mais alta autoridade do Islã sunita. Mas, depois, o seu conteúdo é verdadeiramente profético, porque impulsiona o diálogo inter-religioso não tanto no nível de um confronto doutrinal, que também permanece importante, mas para que as religiões trabalhem juntas para promover o bem da humanidade, para promover precisamente uma sociedade mais humana, mais fraterna, defendendo a dignidade de cada homem, de cada mulher, condenando radicalmente toda violência feita em nome de Deus, como uma traição da autêntica experiência religiosa".

A herança franciscana

“Recordemos então”, acrescenta Martinelli, “que este documento é assinado por ocasião do oitavo centenário do encontro de São Francisco de Assis em Damietta, no Egito, com o Sultão al-Malik al-Kamil”. “Nesse sentido”, explica ele, “já se pode ver o elemento propriamente franciscano do magistério do Papa Francisco”. Um legado confirmado pela encíclica Fratelli tutti, de 2020, dedicada à fraternidade e à amizade social, profundamente enraizada nos textos do Seráfico. Subjacente a esse documento, diz Martinelli, está o “pedido fundamental de Deus para que todos nós nos tratemos como irmãos e irmãs, reconhecendo a dignidade infinita de cada pessoa”.

Um desafio à tecnocracia

Nessa veia franciscana do pontificado que acaba de terminar, é preciso incluir também a Laudato si', a encíclica sobre o cuidado da casa comum, publicada por Francisco em 2015. “É um texto que desafiou a cultura, a tecnocracia”, comenta Martinelli, “e que colocou no centro precisamente a experiência de São Francisco de Assis que, homem reconciliado com Deus, sabe ver na criação os sinais do Altíssimo e que, portanto, eleva a Deus o seu louvor por todas as criaturas”.

Aquela viagem a Assis

O vigário apostólico da Arábia do Sul também faz questão de recordar a primeira viagem do Papa a Assis, no dia de São Francisco, no primeiro ano de seu pontificado, em 2013. “Foi realmente um momento muito intenso”, recorda Martinelli. “Lembro-me, em particular, de uma homilia sua em que ele afirmou fortemente a originalidade de São Francisco, sua profunda espiritualidade encarnacional, profundamente marcada pela figura de Cristo e pelo mistério de Deus, o amor trinitário.” Naquela ocasião, explica ainda o bispo, o Papa denunciou certas reduções que são feitas da figura de São Francisco: “Ele nos convidou a não cair em uma visão piegas desse Santo que, ao contrário, foi um Santo forte que soube, em seu tempo, renovar a Igreja e em cujas pegadas podemos também continuar hoje o processo de reforma e renovação que é sempre necessário dentro do Povo de Deus”.

Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp acessando aqui

23 abril 2025, 10:50